sexta-feira, 10 de abril de 2020

Rei e reis.

Lembro que chorei quando vi o corpo de braços abertos, sangrando por cinco buracos feitos pela indiferença e desamor dos que ali o colocaram, sem mesmo respeitar a dor de uma mãe. Meio século depois não consigo mais chorar, mas estou longe de ser imune a dor dos que lutam pela fraternidade universal entre os humanos. Desconheço o momento histórico quando a seleção entre mais ou menos hábeis, entre forte e fracos, entre eleitos e eleitores se estabeleceu como verdade aceitável e natural. Quando, como e onde surgiu o primeiro reinado? Um judeu veio anunciar que só há um Rei de verdade e ele não habita o mesmo espaço físico de seu filhos e herdeiros. Mais que natural a reação dos incomodados, pretensos reis, donos de toda riqueza e verdade do mundo? Hoje a figura do Rei é figurativa e os reais dono de quase tudo ocupam outros castelos, mas continuam desprezando a dor dos que sofrem fome e frio. Continuam cegos à tortura moderna que fere e mata sem contato físico algum. As favelas dos morros são os Gólgotas dos nossos dias. O centurião que espetou o peito para constatar se ainda havia vida é o miliciano que distribuí sorrisos cínicos nas ruas estreitas onde sobrevivem milhares de nazarenos. Até quando assistiremos esse martírio?

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