sexta-feira, 13 de março de 2020

Mãe Doméstica

Não, minha mãe não foi empregada doméstica. Sim, ela sempre teve uma, desde quando possa me lembrar. Não, nunca vi minha mãe destratar qualquer uma das tantas que teve, uma vez sequer que fosse. Sim, elas deixaram nossas vidas sem deixar grandes saudades. Consigo me lembrar o nome de uma ou duas, mas dizer que ocupam parte significativa de minha memória afetiva é ir longe demais e uma das coisa contra o que me insurjo é o sentimentalismo de fachada. Quando da promulgação da lei da empregada doméstica ouvi muitos argumentos contra a destruição do "vínculo familiar" que havia entre patrões e empregados de "doces e harmônicos tempos". A hipocrisia sempre foi uma marca gravada a ferro e fogo no argumento burguês liberal, que acompanhada do discurso filantrópico, dá um halo de santidade ao pensamento meritocrático. " Não dê milho aos porcos; o máximo que eles merecem é nossa piedade, o resto do nosso almoço, a roupa que já não nos encanta". Por muito que consideremos nossos secretários como membros da família, e muitos são os melhores amigos que já tivemos na vida, não podemos esquecer que são trabalhadores e como tal querem e devem ser reconhecidos e valorizados. E quem não quer?

Nenhum comentário:

Postar um comentário