quinta-feira, 19 de março de 2020

Ruas Vazias

Sempre sonhei com ruas sem engarrafamentos, mas cheias de gente. Olhar para uma avenida normalmente intransitável me traz um primeiro instante de maravilhamento, mas é só me lembrar do motivo do fato, que a triste e cruel realidade me coloca nos trilhos da apreensão. Andar, caminhar livremente, sem automóveis e seus escapamentos ou buzinas sempre me encantou. Li recentemente que o andar alimenta as ideias de quem ousa gostar de escrever. Muito menos que eleitos, desconfio que esses ousados andarilhos sejam propensos masoquistas egocêntricos fadados a misantropia. Talvez por isso resista tanto a transformar em letras impressas as minhas efêmeras ideias. Do alto do vigésimo andar, o Olimpo de onde miro o mundo, vejo ruas e avenidas quase vazias e quase que desejo prolongar minha quarentena forçada pela recente cirurgia e pela partícula viral que pôs todos em isolamento social. Vejo as ruas tranquilas e sonho com o dia em que possa correr livremente por elas e me alimentar de vida e de gente. Nenhuma saudade dos automóveis e suas buzinas. 

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