domingo, 29 de março de 2020

Ler Antes de Entender

Em tempos de crise percebemos o quanto estamos despreparados para enfrentar o NOVO. Isso não quer dizer que não somos capazes de sobreviver às tempestades só porque não temos um teto sobre a cabeça. Banho de chuva é coisa de prazerosa lembrança de meus tempos de menino, que inclusive não abro mão de reviver sempre que surge numa oportunidade. Mas cansei de falar de leites derramados e assuntos preventivos. Quero refletir sobre a arte de interpretar um texto, quando tantos abundam que não ousamos dar conta de parte deles. Penso eu que o primeiro passo diante daquele montão de palavras é entender seu título ou resumo não como o texto todo; se não conseguimos expressar tudo que pensamos em um tratado, que dirá resumir toda uma reflexão em duas ou três linhas. Ao adentrar o corpo do texto se despojar o mais possível do que conhece sobre o assunto; isso evita que batemos o martelo bem antes de conhecer os argumentos do autor. Ao fim da jornada, por vezes bastante heroica, é que devemos nos pôr a comparar o que lemos com o que já sabíamos. Conhecer um pouco sobre o autor ajuda a inferir qual a mensagem que ele pretende nos dar, mas pode interferir em nosso julgamento, tanto para absolvê-lo como para condená-lo. A imparcialidade será sempre um desafio e nunca uma conquista. O fundamental, o motivo instigador destas linhas que quase a acabar, é manter o respeito pelo contraditório; não perder a elegância ao apontar as discordâncias; considerar o antagonista não um inimigo, mas um companheiro na dura missão que é compreender a vida.    

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